Àqueles desesperados de plantão que não conseguem mais dormir por causa da crise econômica mundial, minhas mais cínicas desculpas. Não tratarei sobre a crise, até porque além de não se falar em outra coisa, esse assunto é bastante chato.
Os bolsos dos quais pretendo falar aqui não são metafóricos. São bolsos reais, existentes nas calças da grande maioria dos homens adeptos ao guarda-roupa masculino default da Turma da Mônica, ou seja, jeans e camiseta. Essa mesma maioria de homens tem em comum o pensamento de que tudo que eles precisam para viver em sociedade pode facilmente ser distribuídos entre dois bolsos dianteiros e dois bolsos traseiros. E entre essa caralhada de coisas que insistimos em carregar nos bolsos, estão, nos bolsos da frente, nossas chaves de casa. E são elas as vilãs da história.
Quando tu é um cara que insiste em carregar as chaves de casa nos bolsos, e quando tu é um cara que não tem carro, é inevitavel que, cedo ou tarde, as desgraçadas leis da física te sacaneiem. Tu coloca a chave no bolso, caminha pra lá e pra cá por alguns meses, e então, em um belo dia, quando tá caminhando com uma pilha de papéis em uma mão e um café transbordando na outra, ocorre um grande motim e as moedas resolvem fugir todas juntas, em busca de um lugar à sombra do sofá mais próximo.
Bem… daí tu te liga que o bolso tá furado e inverte a organização dos bolsos. Põe algo maior no bolso furado, transfere a chave pro outro, e se sabota afu! Porque a chave vai furar o outro bolso também. E o peso das coisas que acabaram indo pro outro bolso já furado irão te proporcionar a deliciosa sensação de ter o celular curtindo uma de esquiador, perna abaixo.
Daí, como qualquer outra pessoa sensata, tu transfere tudo pros bolsos de trás. Põe celular e Sorine num bolso, cigarro e isqueiro no outro, e a chave na mochila. De castigo.
De noite tu chega em casa furioso com a calça, joga ela no cesto de roupa suja e esquece que ela existe. Pelo menos até vestir ela outra vez e lembrar que deveria ter mandado costurar aquela merda. Mas daí tu já tá atrasado pro trabalho, e é encarar a situação e distribuir as coisas nos bolsos da melhor maneira que der. Até naquele bolsinho inútil que fica na frente, na perna direita. Até ele vai ter que servir!
E o merda não serve. A cada passo, seja o que for que estiver naquela porcariazinha de bolso, parece que será expremido e arremessado longe como uma espécie de zarabatana involuntária. E lá pela metade da tarde tu já tá te perguntando se é uma idéia tão estranha assim grampear o bolso, ou colcar ele com dupla-face. No final do dia tu já quer costurar todos os bolsos das tuas calças de um modo que nenhum deles aceite que algo seja colocado nele, afim de que tu possa simplesmente remover da tua personalidade o costume de ter bolsos. Então tu chega em casa, joga a calça no cesto de roupa suja, e lá vai tu de novo.